23 de fevereiro de 2006

MORTE TRANQüILA

Jan/2005


Seu rancor é a coisa mais linda que já vi
Mais perfeita, mais redonda, a melhor poesia que li
Seu rancor é tudo neste mundo
É você, é sua vida, é o seu desbundo

Seu rancor faz você mover montanhas
Arrastar, derrubar e despedaçar
Ele é sua linha-guia
O que te faz respirar

Então morra sufocado por seus rancores
Com seu medo, com seu ego, com seus pudores
Engula todo seu ódio,
limpe bem sua boca,
troque com gosto de roupa
e vá pro seu asqueroso pódio

Deite-se na sua cama de poder
Na cama de força que é a camisa da ilusão
Deite-se com quem você conseguir ter
Pegue seu rancor e esfaqueie seu coração.

ETERNóTICO (DES)QUERER

jan/2005

O que você quer nunca é o que eu quero
O que eu quero nunca é o que você quer
Nós nem juntos estamos
Por isso o que queremos
nunca é o que vivemos

Não me diga que o sonho acabou,
desta cama eu não quero levantar
Não pense que o mundo mudou,
na verdade o que você quer é o que eu quero
e o que você quer é me matar

FELICIDADE MORA NO VAZIO AO LADO

ago/2005

Tudo o que queria era tropeçar
na felicidade
em alguma esquina, em algum bar
Mas me sinto tão sem corpo
que acho que não vou encontrar
a felicidade
em momento algum, em nenhum lugar

Se a felicidade está dentro de mim
ela mora em um altar
mais inatingível que o impossível
e é certo que está perdida
numa balbúrdia singular

Ela está onde o nada é tudo
Onde querer é poder
Onde respirar é viver
Onde sentir é se ter
Onde gozar é renascer
Onde você sou eu
Onde eu sou você
Onde minha'lma está
Naquela feliz cidade do meu peito...
...onde nada há

MORRO PARA VIVER VOCê

Ago/2003


Te amo tanto que te odeio
Odeio você e suas coisas
Suas coisas que são minhas
na minha vida que é sua

Me odeio tanto que te amo
Amo você e suas coisas
Por isso só consigo viver
vivendo para morrer por você

QUANTO MAIS, MENOS VOCê

Ago/2003


Quanto menos penso em você
mais te quero
Quanto mais penso em você
mais te odeio
Quanto mais te odeio
mais te amo
Quanto mais te amo
mais me odeio


Quanto mais você é feliz
mais eu sorrio
Quanto mais eu sorrio
mais você me odeia
Quanto mais você me odeia
mais te amo
Quanto mais te amo
menos você me quer

21 de fevereiro de 2006

Momentos Eternos de Uma Vanessinha Sem Vida

Congelar os segundos, os minutos, as horas, os momentos… Não importa o ritmo ou a duração, é isso que Vanessinha adora fazer. Assim como seus amigos, um tanto de seus familiares e um muito tanto dos seus desconhecidos, Vanessinha é uma consumista (sim, não é um estado, é uma profissão) contumaz de tudo o que existe. Inclusive de momentos, e por isso Vanessa vive a congelar: shows, pés, festas, encontros, olhos, roupas, bocas, flores, objetos, risos e até sua gata – e depois os guarda na sua gaveta invisível, localizada dentro da televisão virtual que a conecta ao mundo. O mundo dela e não o meu, diga-se de passagem.
Vanessinha é assim porque quer ter uma coleção incrível de fatos, pessoas e de todas as coisas que viu na vida e das que nunca poderá ver ali, ao alcance das mãos, sob seu poder, em sua gaveta. Como consumista contumaz, ela acha todos os momentos que congela incríveis.
Mas os momentos, que no começo eram apenas vontade de tê-los, viraram vício. Compulsão. Adicção. E Vanessa não consegue deixar de querer todos eles a toda hora. Sua preocupação é sempre ter um. Dominada, é tão escrava que nem lembra de vivê-los – os fatos, as pessoas e as coisas. Mas isso é o de menos. O que importa é tê-los - como cremes, roupas, plásticas, pulseiras.
Ela quer ter todos os momentos porque, junto com as outras coisas sensacionais que possui, usa-os para mostrar para o mundo como é bacana, poderosa, antenada. Para isso, Vanessinha liga sua televisão, conecta-se a ela e coloca as imagens do momentos das pessoas e dos momentos das coisas em um arquivo que pode receber elogios de pessoas do mundo todo. E de todas as pessoas do mundo, inclusive. Se ter é poder, possuir todos os momentos é chique - é para quem tem tempo para isso.